06-01-2020
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Eventos, Património, Imaterial
O nosso menino...o São Gonçalinho!
Ao “nosso menino” - como, carinhosamente, é conhecido pelas gentes do bairro mais típico de Aveiro, o bairro da Beira Mar - reconhecido por muitas virtudes e atributos de santo que lhe são atribuídos: casamenteiro, rapioqueiro, brincalhão, apaziguador de conflitos, protetor e curador das maleitas dos ossos e ainda consegue gozar a fama de procriador dos mais tímidos ou encalhados.
Quem foi?
De origem portuguesa, São Gonçalo terá vivido nos séculos XII-XIII. Pensa-se que nasceu a 1190 (perto de onde hoje se situa Vizela) e viria a falecer já em Amarante. Cedo mereceu a devoção popular fruto de uma vida ascética e de pregação. Cerca de vinte anos passados sobre a data apontada para o seu falecimento [10 de Janeiro de 1259] já, em Amarante, lhe é dedicada uma Igreja. Prova é, o mais antigo documento que se refere a São Gonçalo, um testamento de 18 de Maio de 1279, onde são legados bens à Igreja de São Gonçalo de Amarante. Existem ainda outros vários documentos e escritos sobre a figura de São Gonçalo e o seu culto.
O São Gonçalinho de Aveiro, nome carinhoso pelo qual é conhecido, surgirá nesse contexto acrescido pelas suas virtudes e atributos de santo casamenteiro, protector de doenças ósseas e das gentes da Beira Mar - o bairro que se estende sobranceiro ao seu templo.
A Capela de São Gonçalinho
A capela hoje existente data dos início do século XVIII como o comprova a inscrição data de 1714 colocada, no portal da Capela, sobre um nicho que alberga uma imagem, em pedra, de São Gonçalinho. Um outro documento, um epitáfio, de 1712, assinalava a morte de um operário que trabalhava nas suas obras. Não obstante estes dados, as referencias a uma ermida dedicada ao santo dominicano recuam, pelo menos, ao século XVII. Confirma-o a Memória da Villa de Aveiro, de Pinho Queimado, de 1687, a isso faz referência acrescentando, ainda, que a própria paróquia de Nossa Senhora da Apresentação se teria chamado, inicialmente, de São Gonçalo2. A mesma indicação volta a ser veiculada no Diccionario Geográfico de Luiz Cardoso, publicado em 1747, justificando que o orago de Nossa Senhora da Apresentação “antigamente esteve onde está huma Ermida deste Santo junto à praya, e quando para aqui se transferio, mudou o nome de S. Gonçalo no de Nossa Senhora da Apresentação”.
De planta hexagonal, a capela reflecte o gosto regional pelos planos centralizados que caracteriza da época, repetindo um modelo já aplicado, em finais do século XVII, na Capela da Madre de Deus e na Capela dos Santos Mártires e que será, posteriormente, utilizado na Capela do Senhor das Barrocas [octogonal]. Em termos construtivos, a capela de São Gonçalinho é uma edificação em alvenaria realçada pela aplicação de cantarias, em calcário, em elementos estruturais e de cariz ornamental/enobrecimento tais como o portal, os arcos interiores, o lanternim, os cunhais e as molduras dos janelões4. As grandes dimensões destes janelões pretendem garantir a participação nas celebrações que ocorrem dentro da capela, cujo espaço, em dias de festa, se revela exíguo para o número de crentes. O prolongamento de uma das face do hexágono dá lugar à sacristia por onde se acede às escadas – numa espiral embebida na estrutura parietal - pelas quais, se ascende ao parapeito que circunda a cúpula para cumprir o ritual do toque da sineta e do lançamento das cavacas. A cobertura em cúpula, revestida a azulejos de cor branco e azul aplicados em zig-zag, confere uma nota de policromia ao exterior e realça a presença do templo no meio do casario, principalmente quando se vislumbra Aveiro a partir da laguna. O interior apresenta uma decoração dos altares em talha dourada, sobretudo o altar principal em que uma colunas torças fazem sobressair a imagem do patrono. Outras imagens de arte sacra, regra geral do século XVIII, enriquecem o conjunto.
A relevância da capela, não apenas enquanto peça de arquitectura representativa de uma época, mas também pela sua relação com a dinâmica do espaço envolvente, bem como pelo seu forte simbolismo como expressão da identidade cultural de Aveiro, manifesta na especificidade dos festejos dedicados a São Gonçalinho com as chuvas de cavacas, atiradas em jeito de promessa e/ou tradição, ou com a masculina Dança dos Mancos, justificam o seu valor patrimonial e estiveram na génese da sua classificação como Imóvel de Interesse Público.
Como se festeja o São Gonçalinho
As festas em honra de São Gonçalinho homenageiam o beato que ficou conhecido por ser santo casamenteiro e por curar doenças relacionadas com os ossos. São intemporais as festas a São Gonçalinho que demonstram o amor que as gentes da Beira Mar têm a São Gonçalinho. Durante os 4 ou 5 dias de festas são pagas diversas promessas feitas a São Gonçalinho com a tradição de atirar cavacas do cimo da capela, enquanto centenas de pessoas as tentam apanhar. Este é, muito provavelmente, o momento alto da festa!
Existem mais duas tradições que normalmente se realizam dentro da capela. A entrega do ramo e a "dança dos mancos", tradições onde se pretende perpetuar a história das festas de São Gonçalinho.
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